Eleição com fake news. Polarização política, social e cultural. Tensão, repressão e medo de censura. Aumento do custo de vida. Imprensa militante. Não, não me refiro a fatos atuais, mas aos que aconteceram no Brasil de 1921 a 1922.
“Em 1922, eleição presidencial teve fake news e resultado questionado.” Este é o título da matéria de Ricardo Westin publicada no site do Senado. O arquivo especial, de 01 de julho de 2022, lembra que há cem anos o Brasil tinha vivido uma das eleições presidenciais mais tumultuada da história. Segundo o texto, nos meses anteriores à eleição de Arthur Bernardes, seus adversários “espalharam fake news e insuflaram o Exército contra ele. No fim, questionaram a vitória e tentaram impedir a posse.”
Soa anacrônico rotular velhas inverdades com termo inventado há pouco tempo. Ademais, ainda que se mudem os tempos e as vontades, e que o mundo todo seja composto de mudança, como ensina Camões, mudar palavras não muda as realidades que elas denominam. Mentira é mentira, e na política, como na guerra, é arma usada desde que o mundo é mundo.
Desinformação e propaganda eram armas não só do nazismo de Goebbels, mas do serviço secreto soviético. E para culpar alguém pelas pestes medievais, os eleitos como bode expiatório eram os judeus, assim como mulheres pobres e idosas, consideradas estranhas, eram alvo de caça às bruxas.
No caso da campanha eleitoral, as falsas notícias foram duas cartas publicadas pelo jornal Correio da Manhã, atribuída ao então presidenciável Arthur Bernardes. Uma chamava os militares de canalhas. A outra xingava de moleque o adversário Nilo Peçanha.
Erros de pontuação e concordância prenunciavam a fraude das cartas. E o exame grafotécnico atestou a falsificação. Ainda assim, elas causaram rebuliço, com a mãozinha de jornais que ofendiam Bernardes com apelidos de “Rolinha” e “Seu Mé.”
Candidato do “café com leite”, Arthur Bernardes ganhou a eleição. A oposição não aceitou o resultado e, em vão, pediu recontagem de votos. Militares insatisfeitos deflagraram a Revolta dos 18 do Forte. Para garantir a posse do eleito, o Presidente Epitácio Pessoa decretou estado de sítio, situação que perdurou no governo de Bernardes.
O Brasil mergulhou em grave crise política. A polarização colocava de um lado a esquerda do Partido Comunista, e do outro, os intelectuais católicos do Centro Dom Vital. Os bernardistas não conseguiam impor sua ideologia e seu cravo vermelho aos nilistas. E em meio a tudo isso, o país foi palco de contestação dos padrões estéticos dominantes, com a Semana de Arte Moderna.
Foi nesse ambiente turbulento que o poeta Raul de Leoni lançou seu único livro, Luz Mediterrânea. Leoni era filho de Ministro do STF e afilhado de Nilo Peçanha. Convivia com celebridades da política e das artes, naquele cenário conturbado. Sua poesia, porém, como lembra Sérgio Alcides, fez "ouvidos moucos a todo esse barulho” e desfilou “imperturbável entre mortos e feridos.” Nela, o poeta nos convida a conhecer não suas confidências ou amores, mas uma poética de “emoção filosófica."
É com esse “acento filosofante” que Leoni, no poema Sabedoria, diz para não sofrermos “à espera das auroras da suprema verdade a aparecer”, pois “a verdade das cousas é o prazer que elas nos possam dar à flor das horas.” Ele nos convida a ver que a vida, afinal, é louca e bela, e que “a Beleza é a mais generosa das verdades.”
Bernardistas e nilistas já passaram. Políticos mentirosos e produtores de fake news, igualmente, passarão. A Beleza, como a mais generosa das verdades, esta não passará jamais.
“Em 1922, eleição presidencial teve fake news e resultado questionado.” Este é o título da matéria de Ricardo Westin publicada no site do Senado. O arquivo especial, de 01 de julho de 2022, lembra que há cem anos o Brasil tinha vivido uma das eleições presidenciais mais tumultuada da história. Segundo o texto, nos meses anteriores à eleição de Arthur Bernardes, seus adversários “espalharam fake news e insuflaram o Exército contra ele. No fim, questionaram a vitória e tentaram impedir a posse.”
Soa anacrônico rotular velhas inverdades com termo inventado há pouco tempo. Ademais, ainda que se mudem os tempos e as vontades, e que o mundo todo seja composto de mudança, como ensina Camões, mudar palavras não muda as realidades que elas denominam. Mentira é mentira, e na política, como na guerra, é arma usada desde que o mundo é mundo.
Desinformação e propaganda eram armas não só do nazismo de Goebbels, mas do serviço secreto soviético. E para culpar alguém pelas pestes medievais, os eleitos como bode expiatório eram os judeus, assim como mulheres pobres e idosas, consideradas estranhas, eram alvo de caça às bruxas.
No caso da campanha eleitoral, as falsas notícias foram duas cartas publicadas pelo jornal Correio da Manhã, atribuída ao então presidenciável Arthur Bernardes. Uma chamava os militares de canalhas. A outra xingava de moleque o adversário Nilo Peçanha.
Erros de pontuação e concordância prenunciavam a fraude das cartas. E o exame grafotécnico atestou a falsificação. Ainda assim, elas causaram rebuliço, com a mãozinha de jornais que ofendiam Bernardes com apelidos de “Rolinha” e “Seu Mé.”
Candidato do “café com leite”, Arthur Bernardes ganhou a eleição. A oposição não aceitou o resultado e, em vão, pediu recontagem de votos. Militares insatisfeitos deflagraram a Revolta dos 18 do Forte. Para garantir a posse do eleito, o Presidente Epitácio Pessoa decretou estado de sítio, situação que perdurou no governo de Bernardes.
O Brasil mergulhou em grave crise política. A polarização colocava de um lado a esquerda do Partido Comunista, e do outro, os intelectuais católicos do Centro Dom Vital. Os bernardistas não conseguiam impor sua ideologia e seu cravo vermelho aos nilistas. E em meio a tudo isso, o país foi palco de contestação dos padrões estéticos dominantes, com a Semana de Arte Moderna.
Foi nesse ambiente turbulento que o poeta Raul de Leoni lançou seu único livro, Luz Mediterrânea. Leoni era filho de Ministro do STF e afilhado de Nilo Peçanha. Convivia com celebridades da política e das artes, naquele cenário conturbado. Sua poesia, porém, como lembra Sérgio Alcides, fez "ouvidos moucos a todo esse barulho” e desfilou “imperturbável entre mortos e feridos.” Nela, o poeta nos convida a conhecer não suas confidências ou amores, mas uma poética de “emoção filosófica."
É com esse “acento filosofante” que Leoni, no poema Sabedoria, diz para não sofrermos “à espera das auroras da suprema verdade a aparecer”, pois “a verdade das cousas é o prazer que elas nos possam dar à flor das horas.” Ele nos convida a ver que a vida, afinal, é louca e bela, e que “a Beleza é a mais generosa das verdades.”
Bernardistas e nilistas já passaram. Políticos mentirosos e produtores de fake news, igualmente, passarão. A Beleza, como a mais generosa das verdades, esta não passará jamais.
A mentira é o advogado do pobre... Li isso em algum lugar. Todos os golpes de Estado já havidos no Brasil, inclusive a Proclamação da República, tiveram como justificativa uma fake news.
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