Ainda há juízes em Berlim



Frederico II, rei da Prússia, passou para a história como símbolo de déspota esclarecido. Amigo de Voltaire, com este compartilhava a ceia no castelo de verão em Postdam, nas cercanias de Berlim. O castelo, construído pelo monarca na encosta da colina, foi batizado com um nome curioso: sans-souci, termo francês que quer dizer sem-preocupação. Sans-souci também era o nome de um moinho da região, e de seu dono, imortalizados nos versos de François Andrieux, cujo título é Le meunier de  sans-souci, ou seja, o moleiro de sans-souci.

Começa o poema dizendo que o homem é um estranho problema, e indagando: quem de nós é fiel a si mesmo o tempo todo? Com base nesse mote, passa a narrar o episódio. O rei resolveu construir para si um refúgio agradável, onde mais do que beber e caçar, pudesse degustar não só finas iguarias, mas refinados saberes, na companhia de intelectuais como Voltaire.

Porém, quando quis ampliar o castelo, deparou-se com um problema na vizinhança, o dito moinho que impedia a sonhada ampliação. Seu dono, o moleiro Sans-souci, era um pacato vendedor de farinha que vivia cada um dos seus dias livre de ansiedade e preocupação, daí seu nome e o do moinho. Às investidas insistentes do rei para comprar-lhe o moinho, o moleiro disse não. Dinheiro algum o faria desfazer-se daquele pedaço de chão, onde seu pai morrera, berço e morada de seus filhos.

Inconformado, disse o rei ao moleiro: ─ Você bem sabe que, mesmo que não me venda a terra, eu, como rei, poderia tomá-la sem nada lhe pagar. Mas o moleiro retrucou com a célebre frase: O senhor! Tomar-me o moinho? Só se não houvesse juízes em Berlim.

Do episódio vem a frase: Ainda há juízes em Berlim, que podemos usar em tempos difíceis, para dizer: não vamos desistir, nem tudo está perdido, ainda existe justiça nesse mundo, ou seja, ainda há juízes em Berlim.

Vivemos momentos de crise, cujos desdobramentos poderão mostrar ao mundo que espécie de república nós somos e queremos ser. Mais que um escândalo bilionário, com cifras nunca vistas em nossa história, conspurcando o grande ícone da riqueza e orgulho nacionais, o episódio, dependendo dos rumos que tomar, pode gerar um devastador turbilhão econômico e institucional ou, por outro lado, extirpar da república grande parte da insidiosa rede de corrupção que destrói nossas riquezas e nossa moral.

Que não fiquemos no mero discurso protocolar ─ necessário e adequado, reconheço ─ de governante que a vem a público e diz: queremos investigação e punição aos culpados, doa a quem doer. É preciso muito mais que isso. Temos que mostrar com atos e atitudes que o Brasil não é o país da corrupção aceita sem indignação, a ponto de alguém dizer pública e cinicamente: nesta terra não se faz obra pública sem propina, ou achar que se alguém com uma mão dá o bolsa-família, está automaticamente liberado para, com a outra, receber ou dar o bolsa-corrupção. Os fins não justificam os meios. Numa república séria, não se blinda corrupção com assistencialismo, nem existe ninguém intocável.

Se queremos, de fato, a partir da implosão desse sinistro castelo da corrupção ─ afinal, foi dito que não ficará pedra sobre pedra ─, construir um nova estrutura republicana, respeitada e respeitável, teremos todos de provar, na prática, que não somos a terra da corrupção disseminada e tolerada, mas um país cujos filhos ainda podem acreditar na ética e na justiça, pois como nos diz a frase do moleiro, para a sorte de todos nós, ainda há juízes em Berlim.

Comentários

  1. Realmente em Berlim, na Suíça, nos EUA e outros países sérios AINDA existem JUÍZES, entretanto, isso não se aplica ao BRASIL, onde os Juízes da mais ALTA CORTE (STF) não passam de BANDIDOS OU FORMADORES DE QUADRILHA, sem contar outros que eu mesmo COMPREI ao longo da minha carreira, incluindo-se policiais, delegados, fiscais estaduais, federais e municipais.

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    1. http://secao1.blogspot.com.br/2015/02/provas-que-o-pt-serve-russia.html?m=1

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    2. Quem compra funcionários públicos esta diretamente ligado a corrupção, do existe o corrupto por quê temos o corruptor.

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  2. Nossa, cuidado senhor Alfredo Eduardo. Podem acusá-lo de corruptor! Apaga isso aí!

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  3. Há que se ter ESPERANÇA... Nem tudo está perdido, ainda que o Brasil tenha perdido mais de 50 anos com os (des)governos LULLA e DILLMA...

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  4. Nunca o nosso país necessitou tanto da grande maioria honesta de sua população para produzir uma grande massa significativa que não concorda com toda essa situação irregular que estamos vivendo.

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  5. Prezado Alfredo Eduardo Berndt, Temos um homem, um verdadeiro ser humano que, sozinho, vale por todos os Ministros companheiros juntos. Me refiro ao JUIZ SERGIO MORO. Deve estar trabalhando 24 horas por dia dando conta de todos os processos instaurados em decorrência das investigações da operação lava jatos envolvendo gente poderosa economicamente e por influencia social. Deve estar sofrendo todos os meios de pressão mas está suportando e se mantendo como HOMEM INCORRUPTÍVEL E DE CARÁTER.

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  6. COM CERTEZA LAERTES JOÃO Sousa, ainda há juízes,ministros e o povo honrados o suficiente para derrubar esta facção criminosa que se instalou em nosso governo.

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  7. Pensemos no problema como tal deve ser posto, ESTE PROBLEMA É ESTRUTURAL. Quem dera nós a corrupção ser de um partido somente, seriamos pessoas extremamente felizes caso isso fosse verdade, pois bastaria tirar tal partido do poder e a corrupção acabaria, DEIXEMOS DE SER TÃO INFANTIS E IMATUROS INTELECTUALMENTE, SOCIALMENTE E POLITICAMENTE. Segundo ponto ao qual devemos nos esclarecer é que a polarização como vemos hje no Brasil, não irá nos levar a lugar algum, ser PETRALHA ou COXINHA só deixa o debate mais pobre e com isso ninguém sai ganhando. Terceiro ponto, sejamos éticos, apliquemos em nós mesmos as mesmas regras que aplicamos ao julgar o outro. Se está em dúvida em praticar alguma ação, pergunte a si mesmo," se eu universalizar minha ação ela fará bem aos outros sem prejudicar ou ferir ninguém ?".Exemplificando, pense em uma pessoa que gosta de contar mentira, vamos agora supor que essa pessoa não tenha formado dentro de si, se o fato de contar mentira é bom ou ruim, o que essa pessoa deverá fazer então ? Ela deverá pensar em um mundo onde todos hajam da mesma forma que ela, contando mentira, ou seja, ao universalizar a mentira nós criamos um mundo melhor ou pior ? Vejam bem, em um mundo onde todo mundo fala mentira ninguém consegue acreditar em ninguém e por decorrência ninguém se entende, logo ao universalizar a ação de mentir, verificamos que teríamos um caos instalado caso assim fosse, assim verificamos por meio da universalização de nossa ação que o ato de mentir não é um ato que acrescentará ou melhorara nossa sociedade. Esse é um exemplo simples e bobo, mas que nós exemplifica como cada ação nossa possui um peso expressivo. Comecemos ser mais críticos, permitamos a nós mesmos sairmos da zona de conforto ao sentar na frente da Tv, assistir Jornal Nacional e acharmos que estamos informados do mundo que nos cerca, esses também estão sujeitos ao capital e ali mostrarão o que mais lhe interessar($$$), deixemos de ser massa de manobra dos grandes detentores de capital desse país, tentemos enxergar o que meu pai já dizia ao assistir Tv Globo ou ao se deparar com alguma revista veja e que na época, eu não entendia pois era apenas uma criança, ele dizia, " EU QUERO A NOTICIA, A OPINIÃO É MINHA" fazendo referência a opinião que as grandes mídias passavam já naquela época sem o permitir a pensar de outra forma, sejamos mais críticos a mídia que mais nos desinforma do que propriamente informa. Por último não façamos de juízes(sergio moro e sim em letra minúscula ) nossa única esperança, esses tem estado mais para justiceiros do que propriamente juízes, tenho ousadia de dizer mais, o judiciário é um poder assim como os outros dois poderes de nossa Republica das Bananas e isso implica que sim, ele está sujeito e ele é em sua grande maioria CORRUPTO. Se ainda há juízes em Berlim, sinceramente não sei.

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  8. Senhor Alfredo, então o senhor ê tão bandido quanto eles, se realmente comprou uma ou todas essas autoridades q diz!

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