Leão do século XXI.

Lembram da especulação antes do conclave? Profanos profetas, alguns enfunando os papos tal qual os sapos do poema de Manuel Bandeira, saíram da penumbra para bradar seus pitacos: “esse não tem chance, é ultraconservador. Aquele, quem sabe, pode dar seguimento ao legado de Francisco.” Tão cheios de si, pareciam querer que o sopro do Espírito obedecesse aos seus estridentes apitos.

Com as conjecturas surgiram as brincadeiras. Uma delas era criar imagens de pessoas comuns vestidas de cardeal. Pelo engenho e arte de um amigo, com a ajuda da Inteligência Artificial (IA), até eu e meu sax entramos na vibe.

Veio então a fumaça branca. Robert Prevost, americano de nascença, tornou-se o Papa Leão XIV. E a controvérsia passou a ser sobre o seu perfil, a começar pela escolha do nome.

Prevost explicou que o nome é uma homenagem a Leão XIII. De modo especial, por Leão ter sido autor da Rerum Novarum. A encíclica, de 1891, trata da condição dos trabalhadores explorados pelo capitalismo industrial, dominado por “homens ávidos de ganância, e de insaciável ambição”, que tomaram em suas mãos o “monopólio do trabalho e dos papéis de crédito [...] quinhão dum pequeno número de ricos e opulentos, que impõem um jugo quase servil à imensa multidão dos proletários.”

A mesma encíclica, porém, condena o comunismo. Para Leão XIII, o comunismo, em vez da prometida igualdade social, promove “igualdade na nudez, na indigência e na miséria.” Por isso a Rerum Novarum abre nossos olhos para, além da injustiça desse sistema, enxergar “suas funestas consequências, a perturbação em todas as classes da sociedade, uma odiosa e insuportável servidão para todos os cidadãos, porta aberta a todas as invejas, a todos os descontentamentos, a todas as discórdias.”

O século XXI vive uma nova revolução. Nela se destaca o prenúncio do reinado da IA, que a exemplo da revolução industrial, promete progressos inimagináveis para a humanidade, mas segundo a profecia de Bill Gates, substituirá os humanos em muitas atividades nos próximos dez anos, e mais do que uma ferramenta, é tida como um agente que pode fugir de nossa compreensão e controle, como diz Yuval Harari.

Outros desafios se somam ao advento da IA. Emergência climática, em grande parte resultante do aumento vertiginoso de emissão de gases a partir da queima de combustíveis desde a revolução industrial, e que ameaça não só o direito à vida digna, mas a própria existência das futuras gerações. Invejas e discórdias provocadas por sofisticados totalitarismos modernos, que ameaçam as liberdades, a justiça e a paz.

Rezemos pelo Leão do século XXI, de tantos desafios. Mais do que ficar na discussão rasteira, se ele deveria se negar a ser um “capelão do globalismo” ou aprofundar o “legado de Francisco”, ter a consciência de que um Papa é, antes de tudo, sucessor de Pedro, e não de seu predecessor. E que sua primeira missão é nos confirmar na fé, legado e dom de Nosso Senhor Jesus Cristo.

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