Era uma vez um homem muito ocupado. Vivia se queixando que não tinha tempo para nada. Mesmo assim, queria aprender a arte da oração. Procurou um monge, versado em Filocalia, o amor ao belo e ao bom, para se aconselhar:
–
Você pode tirar pelo menos duas horas por dia para oração?
–
Duas horas?! É muito tempo.
– E
uma hora?
–
Ainda é muito.
– E
se for meia hora?
–
Posso tentar, mas acho difícil. É tanta coisa na cabeça. Mas se eu não
conseguir tempo para rezar, o que faço, então?
No
que o monge respondeu:
– Se
você não tem tempo para rezar, então reze o tempo todo.
É
possível rezar em qualquer lugar e o tempo todo. Uma fórmula recomendada é,
prestando atenção ao compasso da respiração, repetir a oração: Senhor Jesus
Cristo, Filho de Deus, tende piedade de mim, pecador.
Evágrio
Pôntico ensina que a oração é conversa da inteligência com Deus, e quem ama a
Deus conversa incessantemente com Ele. Já Isaac, o sírio, aconselha:
“Esforça-te por entrar no teu quarto interior e verás o quarto celeste. Pois
são a mesma coisa; e a mesma porta se abre para a contemplação de ambos. A
escada desse reino está escondida dentro de ti, na tua alma.” E a escada para o
quarto celeste não pode desprezar a oração mariana.
Oração
mariana não é apenas orar a Maria, mas como Maria. Isso não quer dizer que
nossa oração não possa ser direcionada a ela. Maria é Mãe de Deus, cheia de
graça. Toda devoção a ela é pouca. Todavia, principalmente a partir do séc.
VIII, em muitas expressões religiosas, Maria começou a aparecer cada vez mais
isolada de seu Filho, o que provocou uma legítima reação protestante.
Como
se não bastasse, muitas comunidades praticavam uma devoção mariana meramente
quantitativa, infantil e superficialmente sentimental, sem fundamento na
revelação bíblica. Stefano de Fiores nos traz o depoimento de um religioso, que
mostra a imaturidade e o amadurecimento da fé na devoção a Maria: “em criança –
afirma um religioso –, ela era para mim como que uma fada. Em minha adolescência,
um mito. Em minha juventude, ela se achava muito elevada e distante… Agora
estou quase continuamente com ela e vamos juntos ao cenáculo e ao calvário.”
Orar como Maria faz parte de uma devoção bem orientada e equilibrada.
Nos
relatos bíblicos, o grande hino atribuído a Nossa Senhora é o Magnificat. No
entanto, o modelo orante de Maria não se contém em palavras. Agraciada como
templo vivo do Verbo Encarnado, ninguém deste mundo teve mais intimidade com o
Espírito Santo do que ela. Seu sim abriu as portas dos nossos quartos para o
quarto celeste, na maior oração de disponibilidade e obediência a Deus da
história. Ao lado do Filho, da manjedoura aos pés da cruz, ninguém mais do que
ela viveu a oração do seguimento a Jesus, oração da renúncia na solidão, oração
do silêncio e da sabedoria do coração.
Vivemos
dias inquietantes. No cenário mundial, uma guerra insana que ameaça a vida na
Terra. No palco ou ringue nacional, uma campanha eleitoral com tanto insulto e
baixaria, que fez um padre de 81 anos de vida, 56 de sacerdócio e mais de 2 mil
canções religiosas, fechar temporariamente sua página de catequese numa rede
social, porque muitos que se dizem cristãos preferiram ser catequizados pelo
maniqueísmo comandado por dois poderosos políticos brasileiros.
Cada
cidadão e cidadã tem no voto consciente um instrumento importante para melhorar
a vida do povo. Mas não há convivência democrática sem respeito. E se para
ganhar voto, um e outro ficam se exibindo como cristãos exemplares, é bom
lembrar que Maria é o modelo da perfeita cristã, no qual toda a vida é oração.
Ela
é Mãe, mas também é discípula do seu Filho. Para nós, Rainha, mas também serva
do Senhor. Por isso, em tempos difíceis, podemos juntar nossas vozes a de São
Bernardo, para dizer: “Nos perigos, nas angústias, nas perplexidades, pensa em
Maria, e para obter a sua intercessão segue os seus exemplos; se a seguires,
não te desviarás do caminho certo; se a ela recorreres, não perderás a
esperança.”
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