A
Rainha Elizabeth morreu no dia oito de setembro. Um dia depois dos duzentos
anos da nossa Independência, comemorados com pompa e circunstância. E que gerou
muita polêmica, em nosso reino desunido pela campanha eleitoral. Mas para nós
católicos, oito de setembro é dia da Natividade de Maria.
Como se pode imaginar, nenhum museu
do mundo tem o registro de nascimento de Nossa Senhora. Os textos bíblicos não
noticiam o fato. Entretanto, o Protoevangelho de Tiago traz o seguinte relato
de como pode ter acontecido:
“E o tempo de Ana cumpriu-se, e no nono mês deu à luz. E
perguntou à parteira: ‘A quem dei à luz?’ E a parteira respondeu: ‘Uma menina’.
Então Ana exclamou: ‘Minha alma foi enaltecida’. E reclinou a menina no berço.
Ao fim do tempo marcado pela lei, Ana purificou-se, deu o peito à menina e lhe
pôs o nome de Maria.”
O Evangelho de Tiago está na lista
dos livros chamados apócrifos. Esses textos, de modo geral, são tidos como erroneamente
atribuídos ao autor divino, escritos em imitação aos escritos canônicos. Mas
alguns estudiosos afirmam que o Evangelho de Tiago é anterior aos do cânone. É
nele que encontramos a principal fonte de informação sobre os nomes dos pais de
Maria (Joaquim e Ana), sua apresentação no Templo e a escolha de José para ser
seu esposo. Os chamados Pais da Igreja, a exemplo de Santo Epifânio, citam esse
Protoevangelho com frequência.
O desconhecimento de detalhes
históricos, como a data exata do nascimento de Maria, não é problema que cause
preocupação. Não é demais lembrar que até mesmo quando Jesus nasceu nem sequer
havia o calendário que utilizamos hoje para contar os anos, justamente com base
no seu nascimento. Foi somente depois de quinhentos anos que se passou a usar
esse critério, a partir dos cálculos de um monge.
Dizem que o monge Dionísio, o
Exíguo, era traquejado em matemática. E no ano 525 (pela contagem que usamos
hoje), quando fazia umas contas de padaria e trabalhava na criação de uma
tabela para calcular a data da Páscoa, teve a ideia de estabelecer um
calendário considerando os anos antes e depois do nascimento de Cristo. Mas
hoje se sabe que o monge errou nos cálculos. Tudo indica que Jesus nasceu entre
quatro a seis anos antes do ano um. No entanto, quando descobriram o erro, os
senhores dos calendários preferiram não mexer no que já estava posto, para
evitar confusão.
O certo é que, se comemoramos a
Concepção de Maria em 08 de dezembro, o mais razoável é aceitar que ela tenha
nascido em 08 de setembro, nove meses depois. E mais certo ainda é o que essa
data representa para os cristãos. Não costumamos celebrar a data de nascimento
dos santos e santas, e sim a de sua morte, quando nascem para os céus. Mas
abrimos exceção no caso de João Batista, o São João do Carneirinho, por ter
anunciado ao mundo a chegada do Cordeiro de Deus.
Mais do que anunciar, Maria trouxe
ao mundo o Salvador. Por isso não é sem razão que o nascimento dela seja motivo
de comemoração. A Natividade de Nossa Senhora faz cumprir não só o tempo de
Ana, mas o da genealogia do Salvador: Abraão gerou Isaac, Isaac gerou Jacó, e
muito depois, outro Jacó gerou José, esposo de Maria, do qual nasceu Jesus,
chamado Cristo.
Às vezes quando vejo a propaganda
eleitoral, com promessas que a gente sabe que o candidato não pode cumprir –
prometem até limpar o nome sujo do SERASA, e eu digo, brincando, que ainda dá
tempo de sujar o nome para quem for eleito limpar –, chego a pensar que mais do
que um governante, muita gente pensa que pode eleger um salvador da pátria.
A política é importante para
tentarmos melhorar a vida do povo. E
todo cuidado é pouco na hora de escolher representantes e governantes. Mas
nenhum político, rei ou governante, por
melhor que seja, merece ser tratado como salvador da pátria. Com a morte da
rainha e a subida de um rei ao trono, os súditos do Reino Unido, em vez de God
Save de Queen (Deus Salve a Rainha), passam a cantar God Save de King
(Deus Salve o Rei). Mas somente o Filho de Maria é que pode salvar o povo, o
rei e a rainha.
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