Jesus e Maria


Por mais que se queira saber os porquês da vida, nela sempre haverá o inexplicável. Tem coisas que vivemos que parecem surreais. Não é diferente com as histórias dos santos e santas. Teriam os peixes, feito damas e cavalheiros, tomado seus lugares no auditório das águas, para ouvirem a pregação de Santo Antônio? 

Tenha ou não acontecido da forma que foi contada, aquela pregação inspirou  Padre Vieira no Sermão de Santo Antônio. E já no século XVII, o padre, que combatia a exploração dos povos indígenas, chamava a atenção, naquele sermão, para a corrupção em nossa terra, talvez porque nela o sal não salga ou a terra não se deixa salgar.

Uma dessas histórias que a razão não explica aconteceu com Nossa Senhora. Reza uma antiga tradição, que quando fugia dos soldados de Herodes, ela se escondeu numa gruta para dar de mamar ao Menino Jesus, que chorava de fome. E quando uma gota do seu leite caiu no chão, a rocha da gruta tornou-se branca.

A Gruta do Leite fica na cidade de Belém, na Cisjordânia. É um local de peregrinação, visitado especialmente por casais católicos e muçulmanos que pedem a intercessão de Maria para conseguirem engravidar. E muitos têm recebido a graça de terem filhos, como registram muitos relatos de milagres, até mesmo de casais brasileiros.

Muito mais que alimentar o bebê, amamentar é ato de saúde e cuidado. É vacina e abraço, primeiros olhares de afeto, é nutrição que dá vida. A imagem de Nossa Senhora do Aleitamento ilustra bem essa incomparável ternura entre Jesus e Maria, intimamente unidos num mesmo ato de amor.

Essa união íntima pode ser percebida desde a concepção até depois da Ressurreição do Filho de Deus. Este, segundo a Sagrada Escritura, quando chegou a plenitude do tempo, foi nascido de mulher. E quando Jesus ensinava na sinagoga, deixando as pessoas maravilhadas, elas se perguntavam: não é ele o filho de Maria? 

O relato das núpcias de Caná começa destacando que a mãe de Jesus estava lá. Ela também estava junto ao Filho aos pés da cruz, e depois, em oração, com outras mulheres e os discípulos, no cenáculo do Pentecostes. Por isso, quando Jesus diz que sua mãe e seus irmãos são os que fazem a vontade de Deus, Ele não exclui Nossa Senhora. Pois ela, além de Mãe do Salvador, é discípula do Senhor, e universalmente associada ao Redentor, mesmo sendo redimida.

Tudo o que cremos sobre Maria é dependente da fé em seu Filho Jesus. Daí que a proclamação de Nossa Senhora como Bem-Aventurada não deve ir além, nem ficar aquém do que ela representa na história da salvação. E seu culto, como observa a Lumen Gentium, não deve ser fruto de modismo ou emoção estéril, mas nascer da fé, que abre nossos olhos e corações para reconhecer a grandeza da Mãe de Jesus.

A história de Jesus é repleta de fatos que a razão humana não explica. Mas nossa fé nos assegura que os relatos de sua vida não são lendas. Por isso essas narrativas têm sido fontes de vivência cristã para sucessivas gerações em todo o mundo. Tantas pessoas que dão sentido às suas vidas por crerem que Jesus foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria, multiplicou os pães, fez milagres, curou doentes, e pelo seu imenso amor, morreu e ressuscitou para nos abrir as portas da vida eterna. 

A história de Maria faz parte dessa história. O “M” da medalha de Nossa Senhora das Graças, que sustenta o travessão e a cruz, simboliza a íntima ligação entre Jesus e Maria, a Mãe do Crucificado e Ressuscitado. Não parece justo e honesto rasgar da Escritura as páginas que relatam essa íntima união.

E quanto à devoção a Maria, como adverte nosso Magistério, é bom que a gente evite a simples busca de novidade ou de fatos extraordinários como seu fundamento. Pois também não parece justo e honesto criar devoções apenas para satisfazer predileções de grupos, muito menos inventar modismos religiosos para atrair seguidores ou ganhar dinheiro com o comércio da fé.


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