Mas não foi em estado alterado que ela viu seu primeiro disco voador. Ainda criança, no terraço de casa, começou a gritar para Peter Pan vir buscá-la. Foi quando viu luzes fazendo piruetas no céu. Assustado com os gritos da menina, o pai num instante chegou. Ela então disse que tinha visto Peter Pan, mas quando ouviu a descrição do avistamento, o pai não teve dúvida: “você viu um disco voador, minha filha!"
Você pode até pensar que esse relato é fruto de uma mente perturbada. Afinal, como ela mesma comenta, tem gente que vê Rita Lee como doidona. Mas Rita vê isso com bom humor, e profetiza que, quando morrer, algumas pessoas vão postar nas redes sociais: “ué, pensei que a véia já tivesse morrido kkk.” Que políticos não vão prestigiar seu velório, já que ela nunca foi ao palanque deles. E imagina seu epitáfio: “Ela nunca foi um bom exemplo, mas era gente boa.”
O que você diria, porém, se um relato meio psicodélico, saísse da boca de um padre/influenciador midiático? Pois teve um que disse ter visto anjos e Nossa Senhora do Apocalipse no seu quarto. Quando Nossa Senhora apareceu, viu um ET que entrou e saiu da parede como uma luz. E profetizou: os ET’s vão nos defender de satanás, no decisivo combate espiritual.
Não estou aqui para julgar a lucidez de Rita Lee, nem a do padre. Mas sei que uma nota de esclarecimento, como a do sacerdote, com a desculpa de que teria cometido apenas um equívoco de linguagem – e não foi só isso –, não tem a mesma projeção do que ele disse antes, pregando para milhares de fiéis/fãs/seguidores. Além do mais, para se falar publicamente em visões de Nossa Senhora, todo cuidado é pouco.
Entre os séculos XIX e XX foram relatadas mais de trezentas visões de Nossa Senhora no mundo. Desses casos, segundo a CNBB, muitos são patológicos. Por isso, não se deve dar crédito a tudo o que se diz sobre essas visões. Mas por outro lado, é preciso reconhecer que nem todas as coisas entre o céu e a terra podem ser desvendadas na base da soberba cientificista, como no caso das visões em Fátima.
Os videntes eram três crianças. Lúcia de Jesus Santos, filha de Maria Rosa e Antônio, nascida em 22 de março de 1907, e os primos Francisco Marto, filho de Pedro e Olímpia de Jesus, nascido em 11 de junho de 1908, e a irmã dele, Jacinta Marto, nascida em 11 de março de 1910. Como outros meninos do campo, em vez de irem à escola, passavam os dias pastoreando ovelhas.
Em 1916, apareceu-lhes o Anjo de Portugal, embaixador da Rainha do Céu. E em 1917 ocorreram as aparições de Nossa Senhora, sendo a primeira em 13 de maio, na Cova da Iria, que ficava nas terras da família Santos. As aparições se sucederam ao longo do ano. Numa delas, em 13 de outubro – para a qual os jornais tinham noticiado que naquele dia aconteceria um milagre – milhares de peregrinos disseram ter visto o sol girando ao redor de si mesmo, e movendo-se do nascente para o poente. Alguns cientistas dizem que pode ter sido um fenômeno óptico atmosférico raro, chamado parélio solar.
Mesmo com a repercussão imediata, as autoridades eclesiásticas agiram com cautela. Em 1922 foi formada uma comissão de investigação, encerrada oito anos mais tarde. Chegaram à conclusão que as visões eram dignas de fé, o que permitiu o culto oficial à Nossa Senhora de Fátima.
Um dos critérios para avaliação de revelações particulares é que elas não podem contradizer a revelação bíblica. Embora os fenômenos de Fátima possam ser vistos como uma explosão do sobrenatural num mundo aprisionado pela matéria, como diz Paul Claudel, o mais importante não é saber se o sol bailou ou não, mas que a mensagem de Fátima não contém um traço sequer de doutrina extravagante, como a mistura de anjos com ET’s para um combate espiritual.
A fé do povo também foi um fator importante para a credibilidade da experiência religiosa em Fátima. Do mesmo jeito que as multidões de romeiros do Padre Cícero não surgiram sob o patrocínio eclesiástico oficial, pois até hoje ao santo popular do Juazeiro não foi concedida a glória dos altares, podemos concordar com o Cardeal Cerejeira, quando diz que “não foi a igreja que impôs Fátima, mas foi Fátima que se impôs à igreja.”
Mas para ser cristão ninguém é obrigado a crer em visões de Nossa Senhora, mesmo as dignas de fé e respeito. Pois no fim de tudo – e isso faz parte da revelação bíblica –, não é devoção que salva ninguém, e sim o mandamento do amor. E não adianta a pessoa se exibir como devota do coração de Maria, se tiver o coração fechado para o grande mandamento do seu Filho.
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