A vida do brasileiro comum, este ano, não está
sendo fácil. Não bastasse o aumento da gasolina e do gás de cozinha, das contas
de água e de luz – ardilosamente contidos com a sujeira da enganação
eleitoreira perpetrada no ano velho –, chegamos ao fim de 2015 atingidos
pelo rompimento das represas de rejeitos não só da mineração, mas da corrupção
orgânica, do cinismo político, da paralisia econômica, da perplexidade com os
rumos a que nos podem levar os que deveriam ser timoneiros da República.
Sinceramente, tem hora que bate a tentação do desânimo e da apatia, diante
do cenário tenebroso que parece se esboçar no horizonte. E para não cair
nessa tentação, ponho-me a refletir sobre o valor da perseverança na vida da
gente.
Perseverar é persistir, manter-se firme, é ser constante. Não é, porém,
teimosia de continuar cometendo velhos erros, nem sinônimo de resiliência, se
esta é vista como aguentar calado, quando alguém puxa para um lado e outro
estica para o outro a nossa dignidade, afinal, o ser humano não é
chiclete. Diferente disso, perserverar é não perder a esperança em face de
obstáculos, provações e tentações do mundo.
Enquanto as provações vêm de fora, as tentações fluem e refluem no interior de
cada um, apelam para nosso lado obscuro. É tentação crer que nosso bem-estar se
baseia em nós mesmos, na preocupação exclusiva com o próprio interesse,
servir-se dos outros e não servir aos outros. Também são tentações a
possessividade e o consumismo exacerbados, tanto quanto pensar que a vida se
resume a acumular seguidores em redes sociais, empavonar-se com toda sorte de
ostentação, inclusive religiosa. Os laços que unem o ser humano a Deus não
combinam com as correntes do egoísmo, da busca de prestígio e poder, da fé como
exibicionismo, como nos ensinam as tentações de Jesus.
Diferente das nossas, as tentações do Salvador não podiam vir de dentro, pois
sendo Ele igual a nós em tudo, menos no pecado, em seu coração não tinha espaço
para outra coisa a não ser amor. Mesmo assim, o tentador queria afastá-lo do
seu caminho de Messias sofredor. Ao propor que transformasse pedra em pão,
apelava para o apego ao imediatismo da mera segurança material. Mas ao
responder que não só de pão vive o homem, o Mestre ensina que acima da economia
do mundo está a Economia da Salvação. Lançar-se de cima do pináculo do templo
para colocar à prova a ação de Deus e de seus anjos era apelar para o
sensacionalismo. Mas o amor do Pai não necessita de pirotecnia, nem seus
métodos se manifestam com a lógica humana. Por fim, quando rejeitou
servir ao pai da mentira para dominar o mundo, Jesus deixou claro que seu
objetivo não é o poder terreno a que tantos se agarram com unhas e dentes e,
por receio de se rebaixarem, dele não querem renunciar.
Na perspectiva cristã, porém, renunciar aos poderes do mundo não é rebaixar-se,
tampouco alienar-se. É coisa bem diferente. Se “o máximo prazer, o máximo êxito,
o máximo domínio sobre os outros tornou-se o ideal de vida, e isto é algo
contrário a Deus,” para o ser humano encher-se do amor divino, tem que
esvaziar-se da “atitude mental que considera este mundo como sistema fechado de
onde se exclui o Criador; atitude que destrói as próprias coisas que se
amam.”
Para não destruirmos o que amamos, é preciso, pois, renunciar e perserverar. E
pedir ao Deus Menino, que reacenda em nós, neste Natal, a chama da esperança em
um mundo melhor para nós e nossos filhos, venha o que vier no ano novo que se
aproxima, na certeza de que governos e desgovernos passarão. Pois tudo passa,
menos o amor eterno de Deus.
Feliz Natal. E que venha 2016, com saúde, amor e perseverança.
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