“Ao
nascer, também eu respirei o ar comum. E, ao cair na terra que a todos recebe
igualmente, estreei minha voz chorando, igual a todos.” (Sb 7,3)
Assim
como Salomão, referido no livro da Sabedoria, estreou na vida feito qualquer criança,
o Verbo se fez nascido de mulher. Bem mais humilde que o rei, veio ao mundo
longe das pompas e circunstâncias que cercam as autoridades. Aos pais, por
falta de hospedagem decente, não restou outra alternativa a não ser o abrigo
numa gruta, lugar onde se deu o parto, e onde as santas mãos de Maria
cuidadosamente envolveram o recém-nascido em panos, para deitá-lo numa
manjedoura, sob o olhar amoroso de José. Não há, no mundo, porém, nascimento
mais glorioso que o da Natividade de Jesus, na cidade de Belém.
A
celebração da Natividade é muito mais que a lembrança de um evento ocorrido num
dia específico do passado. Não se trata simplesmente da comemoração de um
aniversário, até porque não se tem registro sobre o exato dia do nascimento de
Jesus. Sabe-se, porém, que por volta do ano 336 da era cristã, já havia uma
festa do Natal em Roma, comemorada em 25 de dezembro, e Santo Agostinho, por
sua vez, também nos informa que mais ou menos na mesma época, a festa do Natal
cristão era comemorada nas terras da África, nesse mesmo dia.
Na
verdade, antes da sua cristianização, 25 de dezembro era o dia em que se
realizavam festas de culto ao sol, no solstício de inverno, no hemisfério
norte. E a Igreja, por considerar tais festas idolátricas, foi aos poucos oficializando
essa data como ocasião para a humanidade afirmar a fé no mistério da Encarnação
do Verbo, “a luz verdadeira que ilumina todo homem”, como proclama o prólogo do
Evangelho de João.
A
Natividade se fundamenta no mistério da Encarnação, evento salvífico para a
humanidade, Boa-Nova para os pobres deste mundo. Não é à-toa que no belo relato
de Lucas, a notícia do nascimento do Menino é dada em primeira mão, pelo Anjo
do Senhor, a simples pastores, que, de repente, se veem banhados de luz, o que
a princípio lhes deixa com medo. O Anjo, porém, tranquilizando-os, lhes
comunica a grande mensagem, para eles e para todos nós: hoje nasceu-nos o Deus
Menino, o Messias, o Salvador!
Entrar
no espírito da Natividade é, pois, ir além do sentimentalismo fomentado por um
espírito natalino forjado pela sociedade que hiperboliza o consumismo,
inclusive religioso, e se contenta com filantropia de fim de ano, sem cultivar
a caridade nossa de cada dia.
Por
isso talvez cheguemos mais próximo do sentido da Natividade se não nos
limitarmos a mensagens açucaradas, do consumismo religioso voltado para
bem-estar e autoajuda, mas refletirmos sobre o significado mais profundo da
religião, enquanto religação dos laços com o divino dentro de nós, na pessoa do
outro e na construção de um mundo mais fraterno.
Quem
nos chama a atenção sobre essa verdadeira religião é a Epístola de Tiago, que
parece não ser tão difundida entre nós, talvez por ser tão contundente. Segundo
o autor sagrado, religião irrepreensível aos olhos de Deus consiste em cuidar
dos necessitados e não se deixar contaminar pela corrupção do mundo. Essa
religião verdadeira, norteada pelo irrestrito respeito aos pobres, não nos
permite acepção de pessoas. Se em nossas reuniões, tratamos diferente quem tem
mais dinheiro, poder ou autoridade, como exorta a Epístola, não estamos fazendo
o mesmo que o mercado, cujas lojas muitas vezes tratam melhor uma pessoa que
adentra suas portas, ricamente vestida, e menospreza a outra que não tem
dinheiro e notoriedade?
Não
nos esqueçamos que no centro da Natividade está um recém-nascido pobre, filho
de pobres, envolto em panos, deitado numa manjedoura. E toda a celebração perde
a razão de ser se desprezamos o seu sentido salvífico. Nascendo de mulher,
respirando o ar comum, caindo na terra que a todos recebe igualmente, estreando
a voz chorando, igual a todos, e ainda muito, muito mais humilde que muitos, o
Verbo assume o que é nosso para nos dar o que é seu, como lembra Santo Agostinho,
pois é pela Natividade, que Deus se faz homem para que o homem se torne Deus.
Feliz
Natividade!
Jesus (deus sol) homenageado no domingo (sunday) dia do sol, nascido dia 25 de Dezembro, solstício de inverno, no hemisfério norte, ainda no ventre de Maria, quando ao encontro com sua prima Isabel, grávida de João Batista que nasceu 6 meses antes no dia 24/06 dia do sol, comemorado com fogueira e fogos de artifícios, tudo não passa de uma grande metáfora.
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