Homenagem ao Dr. Aluísio Rodrigues

Escrevi este texto quando Dr. Aluísio Rodrigues, ex-Presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 13ª Região, aposentou-se compulsoriamente. Não lembro a data. Mas lembro que, na ocasião, houve a iniciativa de pessoas do TRT, de fazer uma homenagem ao Juiz, prestes a se aposentar, com a publicação de textos dirigidos a ele. Procurei Garibaldi Gurgel, amigo de longas datas do Dr. Aluísio, para conversar um pouco sobre a vida deles nos tempos de Caicó-RN, conversa muito agradável, que me ajudou a construir o texto. Todavia, devido a problemas de comunicação quanto à data para o seu envio, o texto não chegou a ser publicado. Deixei-o, então, guardado em meus arquivos.

Há pouco mais de quinze dias, quando soube que Dr. Aluísio estaria conosco num encontro de qualidade de vida na Praia de Pipa-RN, cogitei de homenageá-lo publicamente, com a leitura do texto. Mas como não houve o lançamento do livro dele naquele evento, voltei da viagem com o texto mais uma vez guardado, desta feita na bagagem, sem ter sido lido, como eu havia cogitado.

Resolvi, então, publicá-lo agora, depois que soube do falecimento do Dr. Aluísio Rodrigues. Não se trata, porém, de um discurso em honra a um falecido, mas de uma homenagem a um homem que, como diz o texto, procurou sorver da taça da vida até o último gole.

Um brinde à compulsória!

E eis que o livro da lei assim nos ordena: chegada a idade, pendurarás a toga. É a compulsória! Mas, pensando bem, essa tal compulsória não é invenção de hoje. Ela nos acompanha desde os primórdios. Chegado o tempo oportuno, não tem jeito, o livro da natureza ordena desocupar o aconchego do ventre materno: nascer é compulsório. Seja em Caicó nos idos de trinta e três, seja em qualquer época ou em qualquer sertão que, no dizer de Guimarães Rosa, está em toda a parte.

E não nos basta o nascer. O livro da necessidade também ordena o trabalhar, através do qual, como nos diz O Profeta de Gibran, realizamos o sonho mais longínquo da terra, a nós designado quando nascemos. Inda mais, Excelência, quando não se nasce em berço d’ouro, mas numa família grande, muitas bocas para alimentar.

É preciso também estudar. E se não basta a Matemática do Padre Aderbal Vilar, o jeito é sair mundo afora esgrimindo moinhos de vento, mergulhando a fundo nos compêndios jurídicos e na leitura do direito que pulsa na vida, até se alcançar a dignidade da toga.

Com esta, compulsório é viver os dramas do juiz, de que nos fala Calamandrei: o drama da solidão, decorrente da compulsória liberdade do julgar; o drama da contemplação cotidiana das tristezas humanas, estampadas nos rostos sofridos de quem bate às portas da Justiça, e até o drama da insidiosa rotina, capaz de levar o juiz à tentação de transformar o julgamento da vida e da honra dos seres humanos em ofício mecânico e burocrático, mas que, por outro lado, faz o magistrado sentir-se feliz quando, até às vésperas da compulsória, consegue experimentar, ao julgar, “aquele sentimento quase religioso de consternação que o fez estremecer cinquenta anos antes, quando, nomeado pretor, teve de pronunciar sua primeira sentença.”

Mas agora compulsório é o repousar. Merecido e vitorioso, ainda mais quando se tem a graça de usufruí-lo com boa capacidade física e no auge da intelectual. E como tudo tem seu tempo, ou, dizendo isso no bonito Latim da Vulgata, omnia tempus habent, a ordem agora, dada pelo livro do tempo não é outra senão o carpe diem. Riscar do livro das atividades a palavra trabalho como sinônimo de rotina. Em vez disso, dedicar-se de corpo, alma e espírito ao ócio criativo, quem sabe até, ─ não é Meritíssimo? ─, “viajar enquanto o dinheiro der”, afinal de contas, compulsório é sorver da taça da vida até o último gole. Por isso proponho um brinde, Excelência, um brinde à compulsória!

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