QUATRO DISCURSOS (1)



Como aluno, sempre fui muito calado em sala de aula. Acho que era mais mudo que São Tomás de Aquino, na época em que era apelidado de “boi mudo.” No entanto, quando instado pelos professores, gostava de falar em público. Terminei sendo escolhido como orador de turmas, em alguns cursos que frequentei. Compartilho, agora, esses discursos, não com a presunção de que sejam modelos de oratória, mas como recordação e homenagem. Recordação de momentos felizes de minha vida; homenagem a professores, colegas, familiares e a todos que tornaram possível tais momentos. Antes do texto de cada discurso, trago uma pequena contextualização do momento em que ele foi construído, afinal, não existe texto sem contexto.

LETRAS, 1983

Aos vinte anos de idade, Deus me permitiu concluir o curso de Letras, na então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Guarabira (FAFIG). O Diretor da Faculdade era o professor José Barbosa da Silva, que também foi nosso professor. Suas aulas de E.P.B (Estudos de Problemas Brasileiros) eram fascinantes, provocando reflexão e debate sobre os grandes desafios a serem enfrentados por um povo que vivia os últimos anos dos governos militares. Foi o professor José Barbosa quem proferiu a nossa aula da saudade.

Guarabira, na época, tinha à frente de sua administração o prefeito Zenóbio Toscano, e como representante na Assembléia Legistativa o deputado Roberto Paulino. Ambos deram importante contribuição à nossa Faculdade, de modo especial para a construção do novo prédio, inaugurado poucos anos antes de nossa formatura. No primeiro ano do nosso curso, estudamos ainda no prédio do Colégio da Luz, alugado à FAFIG. O grande anseio da nossa comunidade era a federalização da Faculdade, que terminou não acontecendo. Todavia, quatro anos mais tarde, a Faculdade foi estadualizada, passando a fazer parte da UEPB.

Eis os nomes dos concluintes das duas turmas:

ESTUDOS SOCIAIS: Antonia Enedino Vicente, Cledinaldo Teles dos Santos, Enílcio Meira dos Santos, Elizabete Pacífico Gomes, Geraldo Teixeira da Costa (meu tio), Iran Ribeiro dos Santos, José Hugo Simões, Lúcia M. Ezequiel Cantalice, Maria da Soledade J. da Silva, Maria das Vitórias dos Santos, Maria de Fátima L. Barbosa, Maria Dias Ferreira, Maria Gorete Almeida Silva, Maria Ivete Cordeiro Rocha, Maria José de Souza Bezerra, Maria Licar de A. P. Monteiro, Maria Verônica B. de Araújo, Marilene Coutinho Barbosa, Marineide Bernardo da Silva, Marinez Lisboa Machado, Manoel Marcos Cordeiro, Mônica Cristina Guilherme Pereira, Naíde Bandeira de Souza, Necy Brayner de Oliveira, Norberto Marques Leite, Renalda Carlos Celestino, Renato Bizerril de Brito, Rosilany Galvão Simões, Terezinha Lucena Dias, Sílvia Barreto da Silva e Veralúcia Procópio Cardoso.

LETRAS: Antônio Cavalcante da Costa Neto, Antônio Irineu, Ana Maria Leal P. da Silva, Clemilson Alves de Souza, Edileuza Antas Diniz, Gilvania Batista Ramos da Cruz, José Tarcisio C. de Pontes, Lúcia Ângela dos A. Marreiro, Manoel Amancio dos Santos, Maria de Fátima de L. Rodrigues, Maria Gorett Freitas de Sousa, Marlene Lins Figueiredo, Maurício Moreira de Farias, Suelly Maria Maux Dias, Tereza Cristina de S. Pontes, Valdemar Arcanjo Soares e Zenilda Almeida da Silva.

A colação de grau e o baile de formatura aconteceram no Clube Recreativo Guarabirense.

Discurso de formatura do curso de Letras

Guarabira, 23 de julho de 1983

A Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Guarabira entrega, nesta data, mais uma parcela do produto de seu trabalho. Somos quarenta e oito concluintes, trinta e um de Estudos Sociais e dezessete de Letras, que hoje recebemos habilitação para o Magistério.

Alegria e gratidão são os sentimentos que nos envolvem neste momento. Alegria por atingirmos mais uma meta em nossas vidas, e gratidão a todos os que contribuíram para que pudéssemos atingi-la. Agradecemos aos nossos pais, familiares, professores e a todos os amigos que hoje partilham da nossa alegria. E, acima de tudo, a Deus, por esta dádiva que Ele nos oferece, já que a conclusão de um curso superior, no nosso país, ainda é privilégio de uma minoria.

Emoções nos arrebatam a momentos de êxtase, mas não devem fazer esquecer de estarmos sempre com os pés no chão. Por isso, paremos um pouco e pensemos na seriedade da missão que nos é atribuída a partir deste momento. Analisemos três aspectos fundamentais: o fato de recebermos a habilitação de professores, a situação da sociedade em que vamos atuar e o conseqüente desafio que a atual realidade nos impõe.

Nós somos professores. Pesemos bem estas palavras. Estamos realmente preparados? E os nossos alunos? Poderão eles se desenvolver plenamente tendo-nos como seus orientadores?

Desemprego, violência, analfabetismo, fome, marginalização, problemas e mais problemas embrulhados num grande “pacote,” atado pelas correntes da dependência econômica. Estamos diante de uma difícil realidade. É fato que as sociedades consumistas fabricam mecanismos de autodestruição que corroem as suas estruturas e corrompem os valores humanos. Nós brasileiros, em particular, vivemos um período crítico de nossa história. Conseguiremos encontrar a luz no fim do túnel?

É esse o grande desafio: sermos professores numa sociedade que se debate à procura de uma saída. Crise pressupõe solidariedade para a resolução dos problemas, se enfrentada por consciências bem formadas. O que importa é não permitir que sejamos tragados pelas ondas da desordem para não imergirmos no oceano do caos. E dentro dessa luta temos uma missão a cumprir. O desafio é um estímulo ao nosso próprio crescimento como pessoas. Para conseguirmos superar a crise é necessário não esquecer o compromisso com a propagação das verdades entre os nossos alunos, tendo o cuidado de não nos transformarmos em fantoches, nem contribuirmos para alienação. E, mesmo que sejamos forçados a “alugar” muito barato o nosso trabalho, façamos o possível para não sermos manipulados, pois em hipótese alguma devemos perder a nossa dignidade, vender a nossa consciência, nem enterrar na lama a fé que temos em nossos ideais.

Para finalizar, algumas palavras de reconhecimento devem ser ditas e um apelo precisa ser feito. Reconhecimento não se confunde com bajulação. Enquanto o primeiro é expressão de justiça e gratidão, a segunda geralmente é expressão de hipocrisia ou mediocridade. Por isso, é de maneira sincera que reconhecemos o esforço de todos os que têm trabalhado em prol na nossa Faculdade. Merece destaque a atuação do deputado Roberto Paulino e do prefeito Zenóbio Toscano, principalmente no que diz respeito à construção do atual prédio da FAFIG. Também não podemos deixar de mencionar o dinamismo do nosso ilustre diretor José Barbosa da Silva, e a eficiência de todo o corpo de funcionários desta instituição de ensino. A todos, o nosso muito obrigado. Quanto ao apelo, trata-se da federalização da nossa Faculdade. Fazemos este pedido às autoridades competentes, e em particular ao ilustre Secretário da Educação, professor José Jackson Carneiro de Carvalho, para que nos ajude a conseguir algo tão importante para a comunidade guarabirense e de toda a região do brejo paraibano. Acreditamos e confiamos que o senhor Secretário entrará na luta pela federalização da FAFIG, para que possamos ver concretizado brevemente o sonho de toda a coletividade.

Muito obrigado.

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