Sem restituição não há salvação




Exemplo é bom
e ninguém nega,
dê um bom exemplo,
que essa moda pega.

Refrãozinho bonito, este, veiculado há alguns anos numa campanha publicitária. Mas pra ser bom de verdade, o exemplo não pode ficar só num refrão. Nem se pode passar o Brasil a limpo apenas com discurso inflamado, em que o tribuno se auto-proclama guardião da ética. O melhor é seguir o exemplo de Zaqueu. Para salvar-se, ele não só teve a humildade de fazer uma declaração de culpa, como fez publicamente sua declaração de bens. E não ficou só nisso. Restituiu o quádruplo do que defraudou, pois, em casos de defraudação, sem a restituição do alheio não pode haver salvação.
Padre Antonio Vieira, no Sermão do Bom Ladrão, prega que a lei da restituição é natural e divina, obrigando reis e súditos que tenham condição de restituir o que foi roubado. Daí por que a salvação só pode entrar na casa de Zaqueu depois do cumprimento da lei da restituição, situação diferente da vivida por Dimas, o bom ladrão. Este, sendo pobre, não tinha com que restituir o que roubara. Por isso, a conversão lhe bastou para ter acesso imediato ao Paraíso.
Ensina ainda o sermão, valendo-se das lições de São Basílio Magno, que não são ladrões apenas aqueles que cortam bolsas ou os que espreitam as pessoas que vão se banhar para lhes furtar as vestes. Mais do que estes, merecem o título de ladrões:

...aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor, nem perigo; os outros, se furtam, são enforcados, estes furtam e enforcam.

E, citando Diógenes, que tudo via com vista mais aguda que os outros homens, o Padre Vieira lembra que aquele filósofo, vendo passar uma grande tropa de ministros da justiça, que conduziam alguns ladrões para a forca, começou a gritar: “Lá vão os ladrões grandes enfocar os pequenos.”
Se o sermão merece crédito, vale a pena apostar na lei da restituição. Fazer com que se restitua aos cofres públicos o dinheiro que deles for subtraído; aos destinatários das promessas feitas pelos líderes do povo, a confiança na palavra dada; a todos nós, a crença de que é preciso sempre cultivar a ética.

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