O filósofo e o teólogo



Na Encíclica Fides et Ratio, João Paulo II nos faz ver que o ser humano, na busca da Verdade, não pode se limitar nem ao fideísmo cego, nem ao racionalismo pretensamente auto-suficiente, pois a fé e a razão (fides et ratio) constituem as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. Ora, a contemplação da verdade é a grande meta tanto do filósofo quanto do teólogo.

O filósofo, amigo ou amante da sabedoria, exerce o seu ofício numa atitude de contemplação e encantamento diante do mundo. Tanto que o filosofar, desde as suas origens, traz em si a marca do espanto do ser humano que a tudo questiona, num processo incessante de elevação do seu pensamento para alcançar a essência das coisas. E, embora o filósofo dos nossos dias aparentemente esteja menos propenso à metafísica e mais influenciado pela cientificismo, o fato é que seu trabalho não pode se confundir com a tarefa do cientista, que se prende à explicação de fenômenos que podem ser mensurados e experimentados nos tubos de ensaio de seus laboratórios. Como se sabe, no campo da Filosofia, o pensamento humano se eleva e se organiza não apenas para explicar, mas para compreender o próprio ser humano, o mundo e, algumas vezes, tangenciar o transcendente.

O teólogo, por sua vez, também adota uma forma de especulação metódica e racional, atitude que, em alguns aspectos, assemelha-se à do cientista, afinal a Teologia pode ser considerada a ciência da fé. Entretanto, diferente do filósofo, que em princípio não está cingido a nenhuma verdade apresentada como ponto de partida, o teólogo tem diante de si uma Verdade Revelada pela Divindade, que ele não pode desconsiderar, sob pena de desvirtuar-se de seu ofício de teólogo.

É claro que essa Verdade Revelada pode (e deve) ser aprofundada, e algumas vezes submetida a novas formulações, mais adequadas às exigências intelectuais e existenciais do ser humano nos tempos atuais. Entretanto, jamais pode ser revogada por ato humano, haja vista que se trata de uma verdade que emana da própria Divindade e, portanto, não pode mudar ao bel-prazer da corrente científica ou filosófica da moda.

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