O Deus em que creio




O Deus em que creio me foi apresentado — eu, criança —, como sendo o Pai do Céu. Aquele que castiga o mau comportamento e premia os bons. Meus pais d’Ele me falavam, e sobre Ele me instruíam, mostrando-O já como um Deus uno e trino — claro que numa noção muito mais intuitiva que refletida —, quando me ensinavam a fazer diariamente o sinal do cruz, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Esse Deus, como se pode perceber, chegou até mim por tradição. Esta, se me for dado fazer uma ampla regressão no tempo, não é outra senão a iniciada na história do povo judeu, pelos patriarcas que, ao pôr-do-sol, reuniam os seus ao redor da tenda, para narrar-lhes histórias da fé, de um povo escolhido por Iahweh para selar uma aliança para todo o sempre. Também é a mesma tradição que chegou nestas terras, trazida por caravelas lusitanas, e que nos garante que Aquele mesmo Deus de Israel se fez carne e habitou entre nós. É a segunda Pessoa da Santíssima e Misteriosa Trindade; é Jesus, o Messias; Cristo, o Ungido; é Deus e Filho de Deus, Nosso Senhor.

Mas o Deus da tradição judaico-cristã não veio até mim como simples história de coisas passadas, pois a tradição não foi nem é transmitida como algo fossilizado, tampouco como mito ou folclore. Ao contrário, implica uma relação pessoal, que invade as profundezas do meu ser, questionando meus pensamentos, minhas crenças e meu agir.

E hoje, já distante o tempo da apresentação do Pai do Céu da infância, o Deus em que creio continua tão perto e tão longe de mim. Perto porque se faz presente concretamente no meu cotidiano, desde a leitura da Sagrada Escritura, que é sua Palavra e rico alimento espiritual, até no meu falar corriqueiro, no graças a Deus que me sai da boca quase automaticamente, no Deus te abençoe que digo a meus filhos, ou ainda no se Deus quiser, pronunciado quando me refiro a planos para o futuro. Mas, ao mesmo tempo, longe no sentido de ser o abismo misterioso e insondável, que o meu saber jamais alcança plenamente, por mais que me aprofunde no mundo das especulações teológicas.

Por isso, mais do que teorias sobre o Todo-Poderoso, sou impelido a uma Teologia do inefável, de quem precisa ter a consciência de que o ser humano, criatura que é, antes da ousadia de dizer qualquer coisa a respeito do Pai-Criador, do Filho-Redentor e do Espírito-Consolador, deve prostrar-se diante da Divindade, daquele Deus em que creio, para pronunciar-lhe um fervoroso AMÉM.

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