O encarregado do estudo foi Raimundo
Nina Rodrigues, que além de famoso médico legista, era psiquiatra, escritor e
etnólogo, tido como fundador da antropologia criminal no Brasil. No laudo, ele
concluiu que o crânio não apresentava anomalia que denunciasse “traço de
degenerescência”, que era um “crânio de mestiço”, em que se associavam
caracteres antropológicos de raças diferentes.
Naquele mesmo ano, Nina Rodrigues
publicou o artigo “A loucura epidêmica de Canudos,” no qual diz que Antônio
Conselheiro era seguramente um louco, mas de uma loucura que registra o
reflexo, se não de uma época, ao menos do meio em que ela foi gerada. E vê em
seus milhares de seguidores, entre os quais se destacavam os jagunços, a
manifestação epidêmica da loucura.
Para Nina Rodrigues, o jagunço era o
mestiço do sertão. Mestiço não apenas no físico, que reproduz os caracteres
antropológicos das raças de que provém, mas também em suas manifestações
sociais, “que representam a fusão inviável de civilizações muito desiguais.”
Isso explicaria em parte o “contágio do delírio” de Antônio Conselheiro para
uma multidão de seguidores.
Essas ideias, por absurdas que hoje
pareçam, eram fundadas em ciência da época. Talvez por isso o extermínio de
Canudos não tenha causado tanta indignação. Se ainda há quem pense nos
moradores do Arraial como um bando de jagunços e fanáticos, não causa
estranheza que poderes e poderosos de então estivessem convencidos de que não
havia outra alternativa a não ser exterminar aquela gente, vista como ameaça à
ordem e ao progresso, exaltados na bandeira da República recém inaugurada.
Alheios à inspiração positivista
daquele lema, os seguidores de Antônio Conselheiro empunhavam a bandeira do
Divino Espírito Santo que, como lembra Ariano Suassuna, era a bandeira do
Brasil real, do povo pobre, negro, índio e mestiço, povo sufocado pelo Brasil
oficial. Mas Ariano também lembra que os acontecimentos de Canudos se repetem a
todo instante. No plano internacional, os países pobres são arraiais de Canudos
sufocados pelas grandes potências. E até nas cozinhas de nossas casas, podemos
ter nossos Canudos particulares, quando pisoteamos os direitos dos pobres.
Dave Eggers, escritor americano, publicou um artigo em que diz que o Presidente de sua República está clinicamente louco, e que todo mundo sabe disso, inclusive seus milhões de seguidores. Na campanha eleitoral, o Presidente teria dançado diante de um auditório lotado, em meio à pandemia que matou mais de duzentos mil americanos e que, segundo Eggers, iria matar alguns da plateia. No entanto, seus fiéis seguidores continuam apoiando essas atitudes, especialmente nas redes sociais.
Lendo o seu belo texto lembrei desse poema:
ResponderExcluirOlhem que beleza desse poema escrito há 2 séculos.
Quando a tempestade passar,
as estradas se amansarem,
E formos sobreviventes
de um naufrágio coletivo.
Com o coração choroso
e o destino abençoado
Nós nos sentiremos bem-aventurados
Só por estarmos vivos.
E nós daremos um abraço
Ao primeiro desconhecido
E elogiaremos a sorte
de manter um amigo.
E aí nós vamos lembrar
Tudo aquilo que perdemos
e de uma vez aprenderemos
tudo o que não aprendemos.
Não teremos mais inveja
pois todos sofreram.
Não teremos mais o coração endurecido
Seremos todos mais compassivos.
Valerá mais o que é de todos do
que o que eu nunca consegui.
Seremos mais generosos
E muito mais comprometidos
Nós entenderemos o quão frágil somos, e o que
significa estar vivo!
Vamos suar empatia
por quem está e por quem se foi.
Sentiremos falta do velho
que pedia esmola no mercado,
que nós nunca soubemos o nome dele
e sempre esteve ao nosso lado.
E talvez o velho pobre
Era Deus disfarçado...
Mas você nunca perguntou o nome dele
Porque estava com pressa...
E tudo será milagre!
E tudo será um legado
E a vida que ganhamos será respeitada!
Quando a tempestade passar
Eu te peço Deus, com tristeza
Que você nos torne melhores.
como você nos sonhou.
(K. O ' Meara - Poema escrito durante a epidemia de peste em 1800)
Lindo texto, Júnior Madruga. Obrigado. Abraço.
Excluir👏👏👏👏👏
ResponderExcluirObrigado.
Excluir