Lutar com palavras.
é a luta mais vã.
Enquanto lutamos
mal rompe a manhã.
São muitas, eu pouco.
Uma das grandes batalhas nessa luta é encontrar, em meio a tantas, quase infinitas, a palavra certa para dizer exatamente aquilo que se quer dizer. E não há outra igual à palavra certa, aquela que se procura e muitas vezes não se acha, pois como resume Maupassant: “não importa o que tenhamos a dizer, existe apenas uma palavra para exprimi-lo, um único verbo para animá-lo e um único adjetivo para qualificá-lo.”
Se pode ser vã a luta para encontrar a palavra certa, imagine, então, como é a luta de quem procura encontrar o sentido certo das palavras utilizadas pelos outros para tecer pensamentos expressos em seus escritos. Eis a tarefa do intérprete, eis o desafio da hermenêutica, pretensa ciência da arte de interpretar não só os textos, mas a própria vida.
Como tenho feito com outros assuntos tratados neste blog, trago alguns pensamentos a respeito da hermenêutica, com o objetivo de provocar a reflexão sobre esse tema fascinante.
Interpretar é uma arte, uma arte cujas regras só podem ser elaboradas a partir de uma fórmula positiva; esta consiste numa reconstrução histórica (ou comparativa) e intuitiva (ou divinatória), objetiva e subjetiva do discurso ou texto estudado.
Nós explicamos a natureza, mas compreendemos a vida espiritual.
Interpretar os vestígios de uma presença humana oculta nos escritos constitui o centro da arte de compreender.
Hermenêutica é a ciência e a arte de compreender as expressões da vida fixadas por escrito.
Heidegger (1889-1976)
O homem compreende uma coisa quando sabe o que fazer dela, do mesmo modo como compreende a si mesmo quando sabe o que fazer consigo, isto é, quando sabe o que pode ser.
O homem só compreende porque já é pertencente ao ser que o constitui. Existir é interpretar.
A interpretação de algo como algo funda-se, essencialmente, numa posição prévia, visão prévia e concepção prévia. A interpretação nunca é a apreensão de um dado preliminar isenta de pressuposições.
Cada interpretação se efetua à luz do que se sabe; e o que se sabe muda.
O texto não é pretexto para que só o intérprete fale.
Quem quer compreender um texto deve estar pronto a deixar que ele lhe diga algo.
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