ENTREVISTA EXCLUSIVA:Juiz Antonio Cavalcante fala sobre o livro O Sentido da Vida

Será hoje à noite, no Colégio da Luz (Guarabira) o lançamento do livro o sentido da vida.
O blog fato a fato, do jornalista Antonio Santos, publicou entrevista com o autor do livro,
abaixo transcrita:


O Sentido da Vida
Guarabira-PB (Fato a Fato) – O blog publica, com exclusividade, entrevista com o juiz da Vara do Trabalho de Guarabira, Antonio Cavalcante da Costa Neto. Ele é autor do livro O Sentido da Vida, que será lançado hoje (16), a partir das 19h, no auditório do Colégio da Luz.
Na entrevista, o autor diz qual o sentido de sua obra, a contribuição que ela pode levar a existência humana, bem como o valor que o livro tem em termos reflexivos. Qual o sentido da vida? Essa resposta o leitor deve encontrar no compêndio de Antonio Cavalcante. Confira a entrevista na íntegra.
1 – De que trata o livro O Sentido da Vida. Em que se baseia o autor para pavimentar um tema tão complexo, visto que muitas e muitas vidas não têm sentido, principalmente do ângulo existencial?
Antonio Cavalcante
- O livro é uma coletânea de textos publicados no jornal Nosso Tempo e no da Associação dos Magistrados do Trabalho (AMATRA 13). Um desses artigos intitula-se “o sentido da vida”, e fala da logoterapia, desenvolvida por Viktor Frankl, sendo o título que escolhi para dar nome ao livro. Mesmo os textos tratando de temas variados, é possível vislumbrar, no painel que deles resulta, um fio condutor, que é a busca de sentido para a vida. Pessoalmente, (e certamente isso se deve à formação cristã que me foi dada), acredito que não há vida sem sentido, por mais que sob o ângulo existencial algumas aparentem ser. Mas o livro não pretende fazer doutrinação ou proselitismo, e sim ajudar a refletir sobre a busca de sentido para a vida.
2 – No seu blog tem um artigo de sua autoria (Um Galo Para Asclépio). Refere-se aos últimos lampejos de vida de Sócrates. O que significa a oferenda do filósofo, já que a narrativa faz parte do livro O Sentido da Vida?
Antonio Cavalcante
- Saber morrer também faz parte da busca pelo sentido da vida. Dizem até que filosofar é aprender a morrer. E a morte de Sócrates tornou-se não apenas um ícone da pintura neoclássica, mas símbolo da sabedoria do ser humano consciente de sua finitude e ao mesmo tempo de sua transcendência. Sócrates, mesmo julgando injusta sua condenação, e tendo oportunidade para escapar da pena que lhe foi infligida, preferiu ser coerente até o fim, e mesmo no momento extremo, não esqueceu a promessa que havia feito (a oferenda à divindade), cujo cumprimento lhe deixaria livre e sereno para fazer a travessia reservada a todos nós, viajantes do tempo.
3 – Em que ponto a vida tem sentido para um juiz, já que é determinado a decidir sobre o direito do ser humano. No seu livro há alguma relação ao que ora perguntamos?
Antonio Cavalcante
- A grande missão de um juiz é tentar fazer justiça. Esta, como diz um dos capítulos do livro (fome e sede de justiça), não deve ser artigo de luxo, nem miragem distante da vida. Longe disso, como lembra José Saramago, deve ser a justiça companheira dos seres humanos, justiça que é condição de felicidade do espírito e condição do próprio alimento do corpo, pois se houvesse verdadeiramente tal justiça, ninguém morreria de fome, nem a existência no mundo seria um vale de lágrimas. Daí que o sentido da missão do juiz deve se inserir nessa luta constante de todos os seres humanos para a construção de um mundo mais justo.
4 – Para quem serve o conteúdo de O Sentido da Vida. Há um ‘norte” no compêndio onde possamos nos basilar. Qual seria esse farol?
Antonio Cavalcante
- O conteúdo do livro pode servir a todas as pessoas que se disponham a refletir sobre o tempo e o passar do tempo, sobre a morte e a transcendência, sobre a busca do prazer nas drogas para encher o vazio existencial, sobre a liberdade, a fé, a alegria e o sofrimento, enfim, sobre várias questões que nunca deixaram nem deixarão de ocupar a mente do ser humano. Quanto ao “norte” do livro, se é que se pode apontar um, ele poderia ser identificado, como observo na introdução da obra, fazendo referência a Celso Lafer e Octavio Paz, na tentativa de redescoberta da figura do mundo na dispersão de seus fragmentos, haja vista que na chamada pós-modernidade, as coisas parecem ter perdido o seu centro.
5 – Quando, por que e como veio a veia de escritor e articulista em Antonio Cavalcante Neto. Não no juiz, mas no homem?
Antonio Cavalcante
- Serei eu um escritor? Penso que sou mais um fascinado pela palavra. Esta, no dizer de Octavio Paz, é o próprio ser humano. Não somos apenas carne e osso, mas formados por palavras, que estruturam o pensar, expressam o sentir e alimentam o ser. Desde menino gosto de ler, refletir sobre a vida e expressar o sentimento do mundo. E se o menino é pai do homem, como lembra Machado de Assis, o menino introspectivo, que fui, gerou o homem voltado à reflexão, que hoje sou. O curso de Letras aumentou em mim o fascínio pela palavra. O de Direito, bem como o ofício de professor, contribuíram para o intento de publicação do primeiro livro, e a oportunidade concedida pelo Jornal Nosso Tempo, ajudou a desenvolver a “veia” de articulista.
6 –
“O que vale nessa vida é o amor que compartilhamos com o irmão”. A oração tem conotação franciscana. O livro é assim e por que?
Antonio Cavalcante
- Antes de ser franciscano, amor é divino, cristão, humano e até natural. Maturana chega a afimar que o amor é o fundamento biológico do fenômeno social. Pois sem o amor, entendido como a aceitação do outro junto a nós na convivência, não há socialização, e sem esta não há humanidade. O livro, nesse sentido, enfatiza as várias formas de amor (eros, philia e ágape) e também enfatiza o amor como fonte perene de comunicação e comunhão entre os seres humanos, que, respeitando e tratando o próximo como um “outro eu”, procuram estabelecer relações menos assimétricas, fundamentadas na vivência ética, como condição primeira para a construção de uma sociedade mais justa e fraterna.
7 – Quantos livros já lançou, quais os títulos e de que falam?
Antonio Cavalcante
- Antes de “o sentido da vida”, lancei “Direito, mito e metáfora: os lírios não nascem da lei”, que se apresenta como um compêndio de Introdução ao Direito, mas que também é classificado como Filosofia do Direito, uma vez que procura fazer uma abordagem não convencional de iniciação à ciência jurídica. Depois lancei “Bem-vindo ao direito do trabalho: doutrina, jurisprudência e história e casos da vida”, obra de iniciação ao Direito do Trabalho, que também apresenta uma abordagem diferenciada, enxertando a linguagem espontânea do povo ao discurso elaborado da doutrina jurídica, por entender que o popular e o erudito não são inconciliáveis.
8 – Escatologia – Num dos conceitos do vocábulo, pode se dizer: “se refere ao término da história da salvação”. E por que o livro o Sentido da Vida?
Antonio Cavalcante
- Escatologia é, acima de tudo, reflexão sobre o fim: da vida, do mundo, da história. Fim de mundo, porém, não significa necessariamente hecatombe ou destruição, como costumam mostrar alguns filmes do gênero. Pode significar também plenificação, a vida reinventada em um novo céu e uma nova terra Libertos das sombras da caverna, de que fala Platão, no plano escatológico poderemos ter uma visão mais clara do mundo, da vida e da história. E somente no plano escatológico é que possivelmente compreenderemos com mais profundidade o grande mistério, que é o sentido da vida.
9 – Na entrevista para o Linha Aberta (13-09-10) o autor diz: “estou em busca do sentido da vida!”. Para que serve o livro?
Antonio Cavalcante
-
Quando me refiro ao sentido da vida como mistério, este não se confunde com segredo, na concepção de Rhonda Byrne, em seu best seller, de algo secreto, linguagem cifrada, decodificada apenas por alguns poucos iluminados, mas que de repente se transforma em receita de auto-ajuda. Mistério não é o totalmente incompreensível, e sim o inexaurível. Mistério é verdade que se revela, mas que nunca se esgota. Qual ser humano conhece de forma absoluta o sentido da vida? A propósito, penso que “absoluto” é adjetivo inaplicável às coisas humanas, já que diz respeito à realidade plena, ilimitada, essencial, que não depende senão de si mesma para existir. Nesse sentido, o livro serve como um convite para mergulharmos mais e mais na busca de compreensão desse mistério.


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