Cuidado: dinheiro!




No clássico A ética protestante e o espírito do capitalismo, Max Weber nos mostra que a ideia de que o pobre não é um eleito de Deus e sim um “doente espiritual” está ligada ao pensamento calvinista. Este, riscando do catecismo o pecado da usura para justificar a riqueza como bênção divina, contribuiu para a expansão do capitalismo. A riqueza, quando adquirida pelo trabalho para “a glória de Deus” e não para a “carne ou o pecado”, passou a ser vista como coroação do homem de fé que atende à sua vocação. Não é por acaso, portanto, que na cédula do dólar esteja impressa a seguinte expressão: In God we trust (em Deus nós confiamos).

Bem, justificar o dinheiro amealhado ao longo dos anos tem seu aspecto positivo, quando se apresenta a riqueza como fruto do trabalho honesto. Porém, quando o assunto é dinheiro, todo cuidado é pouco. Galbraith dizia que dinheiro é coisa curiosa, que rivaliza com o amor a capacidade de dar o maior prazer ao ser humano, e com a morte, a de ser a maior causa de ansiedade e angústia, o que me lembra uma frase de um palestrante, que dizia mais ou menos assim: Aquele homem é tão pobre, tão pobre: só tem dinheiro.

Por essas e outras, vale a pena ouvir as glosas de Patativa do Assaré, sobre o mote com o grito do dinheiro a justiça não se apruma:

Ante o seu brado guerreiro,
A honra desaparece,
A razão empalidece
Com o grito do dinheiro;
O sujeito interesseiro,
Que com ele se acostuma,
De qualquer forma se arruma,
Desconhece o próprio pai,
Pois onde dinheiro vai,
A justiça não se apruma.

Movimenta o mundo inteiro
Este metal cobiçado
Fica tudo alvoroçado
Com o grito do dinheiro,
Onde ele forma um berreiro,
Não respeita coisa alguma,
Grita, guincha, berra, espuma,
Derruba a lei do conceito,
Pobre ali não tem direito
A justiça não se apruma.

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